quinta-feira, 16 de abril de 2009

João Batista Trajano dos Santos.(JB)


João Batista Trajano dos Santos, mentor e dono da famosa marca JB. Mestre na arte de fabricar instrumentos musicais, sua marca já é conhecida e respeitada no exigente mercado nacional e até internacional.
Nascido em 1954 na cidade de Caaporã, que fica a 50 Km de João Pessoa, em 1974 veio para São Paulo onde trabalhou na fábrica da Giannini permanecendo por 15 anos. Trabalhava paralelamente na fábrica e em casa, optando depois pelo trabalho por conta, vindo a sair da fábrica.
Suas matérias primas vem dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Japão, Índia, entre outros. Entre as matéias utilizadas, as preferidas são as clássicas como Jacarandá da Bahia, Abeto Europeu e Ébano Indiano, climatizados tecnicamente, e consideradas as melhores do mundo.
Já teve o privilégio de exportar os seus produtos para a Alemanha, Estados Unidos, Japão, Portugal, Peru, África, Itália e Inglaterra sendo conhecido nos quatro cantos do Mundo.


Muitos instrumentistas de técnica, talento e renome invejados, inveja o ouvido de João Batista Trajano dos Santos. Não, JB não toca de ouvido. Nem por música ou necessidade. O homem dos sete instrumentos não toca nenhum. Faz. Ele é luthier, criador, o artesão que sua para o som suar, como diz, na letra de A benção, o compositor Celso Viáfora.
Segundo JB, luteria é capricho, é sonho do músico e seu significado veio com o aparecimento do alaúde (do árabe al laud; laud em espanhol; liuto em italiano; laute em alemão; luth em francês e inglês), instrumento romano de braço torto muito cultivado durante a Idade Média, mas que conseguiu adquirir importância histórica e social no século XV, tornando-se o instrumento do século.
Assim, da palavra luth, surge a figura do luthier, "o alaudeiro" que construía esses instrumentos, e o nome acompanhou o profissional que consatría qualquer instrumento de corda.
Em um conceito mais abrangente e moderno, luthier é o artífice dos instrumentos acústicos. Seu ofício consiste em ouvir o músico, interpretar suas aspirações e transformá-las na realidade de um instrumento de timbre pessoal, único e preciso, sendo uma atividade inter-relacionada com a física, a acústica, a mecânica e a escultura.
No Brasil, a luteria passou a ter real importância a partir das imigrações de europues ocorridas nas últimas décadas do século 19, notadamente por italianos.
João Batista considera a luteria uma terapia e uma arte maior, aliada com a paciência temperada com carinho de um luthier, e o rigor estético que o tempo solidifica.
O artista que sua para o som soar!.
Muito instrumentista de técnica, talento e renome invejados inveja o ouvido de João Batista Trajano dos Santos. Não, JB não toca de ouvido. Nem por música ou necessidade. O home dos sete instrumentos não toca nenhum. Faz. Ele é luthier; criador de instrumentos de corda, o artesão que sua para o som soar, como diz, na letra de A benção, o compositor Celso Viáfora.
A produção total da luteria nativa é nada, num mercado que, no chute, absorve uns 18 mil violões por mês - 9 mil nacionais, 5 mil deles Di Giorgio. Luteria é só capricho, é sonho do músico.
Luthier não tem de tirar músicas do instrumento. Só tem de tirar instrumentos da tora. Para tanto "deve ter ouvido de médico, não de músico" diz JB. Ouvido capaz de perceber no som das cordas dedilhadas a harmonia das madeiras das laterais, fundo, tampa e escala, o equilíbrio dos volumes graves e agudos e até a maturidade do instrumento.
Jb bem que tentou estudar violão. Não deu. A vida não lhe deu tempo sequer para pensar em vocação e escolher a profissão. Caiu nela. Dona Percília, a mãe, enviuvou e careceu de sua ajuda na criação dos três míudos. E na lida, na fazendola deixada pelo falecido Adauto Irineu em Caaporã (Paraíba, quase Pernambuco), com 50 cabeças mestiças de nelore e bastante lavoura branca.
Era 1965 e JB tinha 10 anos. Ajudou direito a mãe, nas duas fainas. Deixou os pequenos bem (Carliete é secretária da Educação de Caaporã e Carlos, o gêmeo dela, é dono do mimo, bar onde trabalha o caçula Jabson) e não se limitou a capinar plantação e a erar garrote. Ao negociar o fruto das terrinhas no mercado municipal de João Pessoa, tomou gosto e se fez atacadista de milho, feijão, mandioca, abóbora, o que fosse.
Aos 19anos, passado para o segundo ano científico, trancou matrícula e tocou de ônibus mapa abaixo. Conterrâneos já aclimatados em São Paulo o levaram à maior das três fábricas de instrumentos de corda do Brasil, a Giannini (as outras eram a Di Giorgio e a Del Vecchio). Contratado, ajudava na montagem e acabamento (só de verniz vão 7 demãos). Logo foi promovido a meio-oficial e a oficial - carreira notável, entre os 1500 empregados da fábrica.
Em 1977 casou-se com Dilma e em 1979 saiu da firma junto com seu mestre Sukiamito Sukiama, japônes que revolucionou a feitura de violões ao chegar em 1974 na Giannini com técnicas e ferramentas inéditas. Em 1982, o bom filho voltou à primeira casa. Líder 3, passou a líder 2 e 1 e, em 3 anos, a coordenador da área de violões clássicos, reduto dos setenta melhores entre os mil artesãos da Giannini.
É: só mil. A firma aberta em 1900 pelo italiano Tranquilo Giannini encolhia (e dos 1500 empregados de 1974 estaria reduzida a 240 em 1999). Sofria principalmente dificuldade para arrumar madeira. O governo Figueiredo proibira importações e José Sarney atrasou a vida de quem vivia a estragar florestas.
JB percebeu que, por esse ou por outro motivo, a Giannini minguava. E pensou no futuro da prole crescente: 1985, Priscila se juntara a Diego de 1 ano e a Allana, de 5. Passou a botar parte do salário na montagem da oficina própria, com furadeira, desempenadeira, plaina, lixadeira, serras circular e de fita, limas, serrotes, grosas, formões, topias, navalhas (sovelas) - tudo importado. Até hoje é. E caro: compra acima de US$ 50 paga 60% na aduana e abaixo disso não compensa o frete.
Também investiu no estoque de matéria prima. Boa idéia. Madeira leva até 6 anos para secar o suficiente. Se um jogo para tampo guardado por 4 anos vale US$ 70, o de 10 anos vai a US$ 200. JB comprou madeira boa e importou o que pôde. Claro: tampo de pinho nacional nem lhe passa pela cabeça. "Só uso cedro canadense ou pinho suecode veio fino. O nosso, mole, desequilibra volumes graves e agudos". Ele revela que o timbre do pinho, de aguda mais brilhante, é preferido pelo violinista clássico. O cedro, grave e perfeito na baixaria, é ideal para a música popular. "O cedro, nasce falando alto e em 6 anos dá o máximo de volume e timbre. O pinho só estará maduro e falará mais alto do que o cedro dali a 10 anos", diz JB. E explica que instrumento na capa não amadurece. "Frio, calor, secura, umidade, massagem, vibração das cordas, tudo acalma e acama as fibras". Para JB, a escala, que reveste o braço e suporta os trastes, tem de ser de ébano indiano - o africano é fraco e sucupira, maçaranduba ou ipê, embora igualmente duras e sem poros, "absorvem o valor das notas, engolem a sonoridade". Braço bom é o de mogno. Importado - aqui é proibido cortar. "Cedro do Pará serve. Leve, exige preparo para não empenar, mas vai acabar substituindo o mogno do braço e do tróculo", diz JB. O Aurelião faz segredo disso, mas trocoli ou tróculos são as peças que prendem o cabo à caixa.
Fora o violão flamengo, cujo fundo e laterais são de cipreste europeu, as laterais e fundo ideais têm de sair da mesma tora de jaracandá-da-baía - madeira preferida para isso pelos luthieres do mundo todo (que também não abrem mão do pau-brasil, ou pernambuco wood, para o arco dos violinos e violocelos). Rareado no Sul da Bahia e no Espírito Santo, o jacarandá-da-bahia made in EUA ou in Japan. Alternativa mais barata (embora não tão boa) é o jacarandá da índia (onde só derruba um quem planta três).
JB reconhece a qualidade da marchetaria nativa, futo do tempo das importações vetadas. Mas prefere, na roseta (enfeite em roda da boca do instrumento), o mosaico japônes ou alemão. Cordas, tarracha, arame dos trastes, tudo vem de fora desde o escancaramento dos portos às nações amigas do governo Collor. Que em vez de melhorar a situação por baratear a importação de insumos, piorou por baratear a vinda do produto final.
Em 1990, JB fez 10 violões. No ano seguinte, pegou a encomenda de seu primeiro 7 cordas. 1992 foi a vez do primeiro cavaquinho e 1993, a do primeiro bandolim. O primeiro de 8 cordas é de 1995 (nunca ouviu falar de violão de nove, mas diz ter notícia de que Egberto Gismonti toca um de 10 cordas).
Em 10 anos de atelier, JB fez nome no Brasil e no exterior. Estima ter exportado até agora mais de 150 violões e cavaquinhos para o Japão, EUA, Cabo Verde, África do Sul, Alemanha, Portugal, Inglaterra, Itália e vizinhança sul-americana.
Aqui, seus instrumentos musicais são tocadas por Roberto Canhotinho (dos Demônios da Garoa), Originais do Samba, Vicente Barreto (parceiro do Celso Viáfora e autor de sucessos como Morena Tropicana), Canhoto da Paraíba, Chico César, Ale Ferreira, Só Pra Contrariar, Luizinho Sete Cordas, Oficina de Cordas do Recife, Antonio Nóbrega, Alemão (Gaviões da Fiel), Adalberto Cavalcanti, Molejo Harmonia, Armandinho Macedo, grupos Nosso Choro e Pernambucano de Choro, Hamilton Holanda, Fernando César, Henrique Annes, Isaías e Israel Bueno, Jorge Cardoso, Negritude Jr, Muleke Travesso....
Neste ano, JB espera repetir com 3 ajudantes, a produção de 2000: 200 cavaquinhos, 50 bandolins e 20 banjos; 30 violões de seis, 30 violões de sete e 3 violões de oito cordas; 3 violachos (contra-baixo de 6 cordas), 10 violões- tenores (espécie de cavaco maior e grave) e 10 elétricos, além de umas 20 violas, entre especiais (como a de 12 cordas feita para Antonio Nóbrega) e comuns - de dois pares de cordas finas (canutilhas) e dois de grossas (toeiras), mais o par do meio, composto por uma toeira e um canutilho, uma oitava acima.
Luthier João Batista
Edição: [Ygor Furtado]

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